sexta-feira, 20 de março de 2009

Um workshop para recordar


Aqui há dias fui a um workshop de comunicação, realizado na minha faculdade, cujo tema era "Como dar más notícias"...e que belo tema. Já pararam para pensar nisto? Como nós nos comportamos quando temos que dar uma má notícia a alguém? Depois de tanta partilha de histórias e experiências vivenciadas nas enfermarias do hospital onde passamos algumas horas (por enquanto só algumas...), percebemos que os médicos não são os senhores do Mundo e também têm medos e dificuldade em lidar com diversas situações com que se deparam no dia-a-dia, sendo esta uma dela...Como é ter que comunicar a um doente que tem uma neoplasia? Como é que o médico se sente quando tem que comunicar ao doente que tem uma doença crónica para a qual não existe tratamento algum? Que voltas dará o médico no seu mais íntimo ser quando comunica a morte de um doente aos seus familiares? Medo...angustia...frustração...são alguns desses sentimentos que levam muitas vezes a assistirmos às situações mais desumanas que podemos imaginar.
Uma colega que se encontrava nesse workshop contou-nos uma situação que tinha ocorrido com ela: tratava-se de uma doente com 40 anos, com o diagnóstico de uma neoplasia, numa fase terminal, aparentemente encontrava-se numa fase de negação, mas no fundo tinha plena consciência do que será o dia de amanhã, e o seguinte, até chegar o último minuto que tão breve se encontra. Chamou a minha colega, queixo-se de dores e perguntara se era normal...essa mesma colega não sabendo muito bem o que haveria ou poderia dizer, sentindo que precisava de ajuda, deslocou-se ao gabinete onde os médicos costumam reunir-se e disse que precisava de ajuda, porque não estava a conseguir lidar com aquela situação, já não sabia mais o que fazer (todos os dias seguia aquela doente). Após este pedido sincero e um pouco desesperado de ajuda recebeu a seguinte resposta do seu tutor..."oh, deixa lá, vai morrer...". Um tom de desprezo, de desinteresse para com a doente, quando no fundo aquele e os outros médicos tinham o mesmo medo que a aluna e sentiam também eles dificuldade em lidar com a situação. Assim, a forma mais fácil ou menos dolorosa de resolver o problema é o afastamento, o evitar passar naquela enfermaria, o evitar ter de falar com aquela doente....
Isso deixou-me a pensar...porque será que os médicos tantas vezes com receios e dificuldade em lidar com situações como esta, têm um medo incrível de aceitar que não são os super-heróis, que também têm as suas limitações, os seus medos...porque razão apenas os doentes têm acompanhamento psicológico, porque é que os profissionais não falam sobre este casos, fogem deles, não conseguem admitir que têm medo da morte e dificuldade em lidar com esse momento natural (mas doloroso) no ciclo da vida?...Tenho pena que o curso de Medicina, seja tão longo e tão pouco desenvolvido no que respeito a estas temáticas, à comunicação com os doentes, que seja necessário encontrarmos estas oportunidades, como este workshop, fora do curso quando me parece tão fundamental na formação de todos os profissionais de saúde que lidam diariamente com pessoas doentes.
Provavelmente assistiram a uma reportagem no telejornal da RTP1 que o especialista mundial de comunicação em Oncologia esteve em Portugal a dar formação ao médicos sobre como comunicar com os doentes que se encontram numa situação de doença avançada. Entretanto a Coordenação Nacional para as Doenças Oncológicas iniciou um programa piloto, para treinar a forma como os médicos comunicam com os doentes. Já é um passo...mas não deveria isso ser incorporado na formação dos médicos, na faculdade e não após a sua formação? Mantenho a esperança de que um dia isso mude...

segunda-feira, 9 de março de 2009


Numa tarde de sol, depois de uma longa caminhada cheguei a esta praia na Foz do Rio Douro. Sol radiante, mar revolto, gaivotas sobrevoando e eu...sentada num muro a contemplar a imensidão de azul. Parei e pensei...porque não partilhar os meus pensamentos, os meus desabafos, as minhas inquietações, as minhas vivências, algo que talvez me refresque a alma nos momentos de solidão (que dadas as circunstâncias...são inúmeros) e, quiçá, susciptar interesse e momentos de reflexão nos que por acaso passarem por aqui. Foi então que decidi começar a dedicar-me a este mundo tão vasto, diferente e interessante que é o mundo dos blogs.
Cheguei a casa e sentei-me em frente ao computador a navegar nas variadas definições, esquemas, fotografias, modelos até que finalmente atingi este resultado final. Como qualquer principiante tenho imenso para aprender e melhorar, mas foi mais um passo fora da rotina de casa-faculdade e faculdade-casa, que me acompanha há quase 3 anos nesta cidade.
Espero não me perder nos magnânimos livros de Medicina e reservar sempre um espaçinho para "Um momento de reflexão...".